quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

“Teorias da aprendizagem” Desirrée Motta Roth

Gênero Textual é uma combinação entre elementos lingüísticos de diferentes naturezas-fonológicos, morfológicos, lexicais, semânticos, sintáticos, oracionais, textuais, pragmáticos, discursivos e talvez possamos dizer também, ideológicos que se articulam na “linguagem usada em contextos recorrentes da experiência humana, e que são socialmente compartilhados”.(Motta Roth, 2005, p.181).
Gêneros se constituem como tal em função da institucionalização de usos da linguagem, portanto emergem a partir da recorrência de usos da linguagem, com diversos graus de ritualização, por pessoas que compartilham uma organização social.A linguagem funciona como elemento estruturador dos dois primeiros elementos.Os três se articulam em gêneros, práticas sociais mediadas pela linguagem, compartilhadas e reconhecidas como integrantes de uma dada cultura.Tal conceito de linguagem, que articula a vida social e o sistema da língua, carrega em si pressupostos acerca do ensino de linguagem: ensinar uma língua é ensinar a agir nela.
A escola deve oferecer ao aluno um contexto em que este possa articular conhecimentos e competências por meio de usos da linguagem em situações específicas, para realizar determinadas atividades sociais.
Os PCN’s alertam ainda que “a escola deve incorporar em sua prática os gêneros ficcionais ou não-ficcionais, que circulam socialmente”(p.77) para encorajar “o domínio progressivo das situações de interlocução” (p. 61).
Se a linguagem é um fenômeno social e não-individual, então a aquisição da linguagem é um processo orientado para as condições e as interações sociais (HALLIDAY, 1994, P.xxx).Assim, a criança experimenta a linguagem nos textos produzidos e consumidos à sua volta; ela vivencia a cultura de seu grupo social nas situações que são engendradas no dia-a-dia.
O ensino de produção textual em língua materna, portanto, deve passar por desconstrução e análise do contexto, da situação comunicativa, para que o aluno possa perceber a configuração social de um momento e como a língua como sócio-semiótico constitui esse momento.
A contribuição da noção de gênero textual para o ensino da linguagem, portanto, é chamar a atenção para a importância de se vivenciar na escola atividades sociais, das quais a linguagem é parte essencial; atividades essas às quais, muitas vezes, o aluno não terá acesso a não ser pela escola.O mundo letrado deve ser desmistificado, deve se tornar algo real, palpável.
Ensinar linguagem sob a perspectiva de gênero não é o mesmo que ensinar “tipos de texto”, mas sim, trabalhar “com a compreensão de seu funcionamento na sociedade e na sua relação com os indivíduos situados naquela cultura e suas instituições”, “com as espécies de textos que uma pessoa num determinado papel (na sociedade) tende a produzir (MARCUSCHI, 2005, p.10-12).
Ao aprender os gêneros que estruturam um grupo social com uma dada cultura, o aluno aprende maneiras de participar nas ações de uma comunidade (MILLER, 1984,p.165).
McCarthy & Carter (1994) quando afirmam que ensinar línguas é ensinar alguém a ser um analista do discurso, portanto creio que as discussões em sala devem enfocar as práticas linguageiras nas ações específicas do grupo social relevante.A prática pedagógica nesses termos pode contribuir para o desenvolvimento, no aluno e no professor, da consciência crítica dos aspectos contextuais do uso da linguagem.

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