quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Autonomia Relativa

Saussure (1997, p.34) afirma: ”língua e escrita são dois sistemas distintos de signos; a única razão de ser do segundo é representar o primeiro”.Em síntese, o pensamento estruturalista, tanto europeu como americano volta a atenção dos estudiosos para a oralidade e para a sincronia.Bakhtin (1977) já alertou para essa confusão entre descrição do teórico-linguista e a percepção efetiva da língua pelos sujeitos que a falam.
Segundo Cavalcanti (1989, p.19-55), os modelos centraram-se nos processos mentais da leitura de forma mais sistemática, ainda no ensino de LE. Assistiu-se a uma reabilitação do texto escrito com a aclosão da abordagem instrumental.A noção de alfabetização, etimológica e ideologicamente vinculada ao alfabeto e, portanto, restritiva ao domínio da letra e da palavra, desvinculadas do plano histórico-social e dos sujeitos que as utilizavam para definir-se uma noção muito mais ampla: letramento (ou literacia para os outros países de língua portuguesa), que conforme Marcuschi (2001, p.25), envolve as mais diversas práticas da escrita (nas suas variadas formas) na sociedade e pode ir desde uma apropriação mínima da escrita até uma apropriação profunda e não se limita, portanto, ao uso formal da escrita.
Para Derrida (1973), a escritura ultrapassa o nível da escrita alfabética e o próprio nível lingüístico: a escritura contém a linguagem.Além disso, escritura abrange “tudo o pode dar lugar a uma inscrição em geral, literal ou não, mesmo que o que ela distribui no espaço não pertença à ordem da voz: cinematografia, sem dúvida, mas também “escritura” pictural, musical, escultural (DERRIDA, 1973, p.11).
Em muitas escolas do Brasil, o ensino da leitura e da escrita de modo geral aproxima-se ainda muito das práticas medievais e de práticas de séculos anteriores regidas pelas escolásticas.Segundo esses princípios e condutas, a compreensão não era indispensável para o conhecimento e, assim, os alunos eram obrigados a memorizar regras de gramáticas que eram escritas no quadro pelo professor.Por essa descrição, pode se ver realmente que as concepções de ensino aprendizagem e de leitura, em muitas instituições, pouco mudaram.
O ensino continua sendo transmissão de conhecimentos; a aprendizagem, o resultado de memorização; a leitura permanece decodificação de formas e sentidos pré-estabelecidos e a produção, apenas a reprodução dessas formas e desses sentidos.
Conforme Cornaire e Raymond (1994), a partir da década de setenta, os estudos cognitivistas questionaram a visão estrutural /behaviorista, considerando que ensinar uma língua é mais do que fazer com que sejam adquiridos automatismos.A aquisição de uma língua passa a ser considerada como um processo no qual a compreensão tem papel central e no qual “o indivíduo tem um papel de primeiro plano em sua aprendizagem”.

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